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“ Tritium es primer detector mundial de tritio en el ambiente, en tiempo real”

Categoría Gestão dos projetos aprovados

Este mês tivemos a sorte de falar com Antonio Salvador Baeza Espasa, catedrático de Física Aplicada, Diretor do Laboratório de Radioatividade Ambiental da Universidade de Extremadura e Coordenador do projeto do TRITIUM, um projeto que permite a detecção e a medição de trítio na água, in situ e em tempo real.

 

1.     Em que consiste o projeto Tritium?

Tritium nasce da nossa experiência em controlar as emissões radioativas das centrais nucleares que já exercemos com o Governo Autónomo de Extremadura e o Conselho de Segurança Nuclear de Espanha. Existem empresas que se dedicaram a fabricar sistemas de medida que identificam automaticamente formas de contaminação radioativa no meio ambiente. O trítio é um isótopo (cdrl: elemento químico) radioativo que se encontra na água e que demora 4 dias a ser detectado, o que significa que os consumidores podem chegar a beber água contaminada com trítio por falta de detecção. É difícil medir o trítio em tempo real e o problema é que forma parte da água porque é hidrogénio.  Existe uma Diretiva europeia que estipula que a água é potável quando contém menos de 100 bequereles do trítio por litro. E é comum que nos arredores dos centrais nucleares se detectem águas que excedem estes limites. Embora existam detectores para outros isótopos radioativos que podem ter níveis inadequados, no que se refere ao trítio não existiam semelhantes detectores que permitam medir em tempo real. É por isso que nos propusemos criar este detector que nos permite detectar os níveis do trítio nas águas e indicar potenciais problemas nas centrais nucleares. Este detector é o primeiro no mundo: embora existam detectores de laboratório, aqui trata-se do primeiro detector de trítio no ambiente, em tempo real. Nas próximas semanas, vamos testar o detector que construímos em Aveiro (PT) no ambiente, em condições reais, e em maio testaremos um outro detector, igualmente no ambiente, este último construído em Valência (ES).

2.     Trata-se de um projeto no qual cooperam entidades de Espanha, França e de Portugal. Qual o papel de cada uma delas?

Tritrium é um projeto de investigação aplicada. Trabalhamos junto com os laboratórios de outros países, cada um especializado num campo concreto. Os sócios franceses estão especializados em sistemas de proteção, para isolar o detector do ambiente; os portugueses e os sócios do Valencia são os responsáveis da construção dos detectores e nós temos muita experiência em redes de alertas tais como a gestão da informação em remoto, gestão de estações, etc.

3.     Que riscos tem o trítio para a saúde?

Os seus riscos são similares aos do tabaco. Quanto mais se fuma, maior é o risco de cancro do pulmão. Com o trítio acontece o mesmo: quanto mais radioatividade submeta ao organismo, maior é a probabilidade de desenvolver um cancro. Isto pode ser evitado e devemos evitar, sobretudo devemos respeitar os limites estabelecidos na respetiva Diretiva Europeia.

4. Como funciona o detector?

A nossa ideia baseia-se em guias de luz. Formamos um bote de paredes opacas onde entra a água. Algumas das moléculas de água são compostas por trítio que como todo isótopo radioativo visa desintegrar-se para se converter num isótopo estável. Com esta finalidade, emite radiações que possuem muita energia. O bote é composto por muitas fibras transparentes, feitas com um material similar ao metacrilato, que atuam como detector. Quando tocam um elétron produzido pela desintegração do trítio, uma das fibra produz um flash de luz e esta luz é conduzida através das fibras à extremidade do bote onde existem dispositivos que convertem esta luz em carga elétrica. E a partir de aí, uma corrente eletrónica traduz o que foi detectado. Obviamente, mais trítio na água, mais elétrons serão produzidos, o que se traduz em mais luz num bote e mais carga elétrica que permitirá realizar as medições.

5.     Os detectores são muito caros?

Os protótipos costumam ser muito caros e ocupam demasiado volume. Mas uma vez testado em circunstâncias reais, conheceremos as dimensões e as características adequadas. Penso que não será demasiado caro embora no mundo nuclear, os sistemas de detecção costumam ser caros. Mas é importante indicar que, na atualidade, uma alternativa à energia de cisão é a energia de fusão a través da qual se pretende fundir moléculas de água a partir de reatores para fazer moléculas maiores que desprendem energia. Nestes reatores, o principal contaminante será o trítio, em quantidades industriais. Consequentemente, os detectores do trítio serão cruciais.

6.     Atualmente, a energia nuclear é um questão controversa que pode gerar reticências na população. Como foi acolhido o projeto?

Do ponto de vista da população, o acolhimento depende da sua cultura: estão por um lado os pro-nucleares e por outro os que estão contra. Alguns centram-se na justificação da existência das centrais mas neste projeto, não se trata de discutir esta questão mas sim prevenir problemas que possam ocasionar as centrais. Do ponto de vista técnico, a recepção foi muito boa e cooperaram para que pudéssemos testar os nossos equipamentos.

7.     Que ideias têm para o futuro?

Queremos ampliar tanto quanto possível a vida destes equipamentos para analisar as possíveis falhas, ver como se desestabilizam etc. e poder garantir a sua longa duração. Assim que tenhamos todas as provas necessárias do seu bom funcionamento, solicitaremos uma patente pois estamos convencidos da utilidade destes detectores, do quais poderão aproveitar-se as centrais nucleares que se refrigeram através da água dos rios. E claro, poder controlar o único isótopo radioativo que não se controla atualmente, e que é muito difícil de eliminar da água, é importante.

Muito obrigado Antonio!

+ info: https://tritium-sudoe.eu/es-es/